segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008

Disposição pra que?

Um ritmo que balança, diverte, vai-e-vem, o funk carioca tem quem se agrade em ouvir e dançar. Em suas inúmeras fases conseguiu adeptos de algumas, e alguns de todas. Mas neste momento funkeiro, só se ouve uma palavra e se faz um movimento, o CRÉU. Na última sexta-feira, dia 22 de fevereiro, li no Jornal O Globo uma chamada da matéria de capa da Revista de domingo: a dançarina do Créu, Andressa Soares, de 19 anos, moradora de Vila Valqueire. No mesmo instante, me indignei com a pauta escolhida. Será que não existem assuntos ou personalidades mais importantes que mereçam uma capa da Revista de domingo? Essa foi a pergunta que fiz.
Assim que li a reportagem de Chico Otávio, percebi que a dançarina serviu de gancho para um assunto de vertente um pouco mais abrangente: mais uma fase do funk carioca. Depois dos Mc´s fazerem apologia às drogas e ao crime organizado, chegou a hora de mostrar toda sensualidade, ou melhor, toda sexualidade que o funk e suas dançarinas possuem. Um mulher de 19 anos é chamada de "mulher Melancia" por medir 119 centimetros de quadril e fazê-lo tremer na quinta velocidade da "música"(entre aspas, pois não sei se posso classificar isto como música) deixando todos os homens que assitem ao show de queixo caído. E ela acha isso bom!
O funk carioca um dia já serviu como desabafo de alguns moradores de favela não satisfeitos com sua situação, colocando na mídia músicas como as dos Mc´s Cidinho e Doca, da Cidade de Deus, que cantavam o "rap da Felicidade". Frases como "eu só quero é ser feliz, andar tranqüilamente na favela onde eu nasci" deixam claro que a vida simples não incomoda, e sim, a grande desigualdade existente no país e a influência do tráfico na vida de todos esses moradores.
Sou adepta ao ritmo e acredito na força de quem o canta. No entanto, não me agrada o fato desta expressão cultural não estar servindo para nada. A massa é quem tem a voz, mas precisa saber usá-la na hora e de forma certa. Acreditar nisso já é um excelente começo.